Politicamente incorreto.
Mas as tribos se divertiam.
Em Roma, não dispenso uma caminhada pelo que foi o Circo Máximo, local das famosas corridas de biga (carro de guerra conduzido por uma pessoa e movido por dois cavalos). Lembram do filme Ben-Hur, a versão com Charlton Heston,
ganhadora de onze Oscar?
Situado no vale entre os montes Palatino e Aventino, ficava ao lado de um antigo templo subterrâneo dedicado ao deus Consus. Onde Rômulo organizou o Festival da Consuália, atraindo as tribos vizinhas para as corridas de cavalo, enquanto seus amigos raptavam as mulheres sabinas.
Maior arena da cidade, sediava os jogos públicos realizados por ocasião das grandes vitórias e dos festivais religiosos. Os eventos, patrocinados por cidadãos ricos ou pelo Estado romano, tinham por objetivo agradar ao povo e reverenciar os
deuses.
Perfeito.
Quer melhor justificativa?
Na cosmologia romana da época, o deus Sol conduzia sua quadriga (carro de guerra conduzido por uma pessoa e movido por quatro cavalos) através do circuito celeste do amanhecer ao pôr do sol. A deusa Luna, sua parceira, conduzia sua biga à
noite. Representavam o movimento do cosmos e o circuito do tempo, cuja analogia maior era a pista do Circo Máximo. O imperador era o equivalente terrestre de Apoio. Não creio que ele acreditasse, mas por certo gostava do papel.
Com lugar para 150 mu pessoas, segundo alguns, um pouco menos, segundo outros, nunca houve, e ainda não há, um estádio para entretenimento tão grande. Para orgulho da nobreza e deleite do povo. Pão c circo. Você sabe, o costume é
antigo.
Muito.
Muito antigo.
Os jogos mais antigos foram promovidos pelo rei Tar-
quino, isso lá no século VI a.C., quando a praça de esportes
ainda tinha uma estrutura rudimentar. Ela foi sendo aperfei-
coada e os espetáculos não pararam mais de acontecer. Come-
cavam com uma pomposa cerimónia de abertura, na qual
explicavam ao povo os objetivos do evento e apresentavam os
participantes dos embates.
Por exemplo: na abertura do Festival da Cereália, a corrida de cavalos, realizada durante o dia, era seguida pela soltura, durante a noite, de raposas com suas caudas em chamas. Um espetáculo à parte. E nem era violento. Para a época, claro.
Não sei os deuses.
Mas o povo adorava.
No século II a.C.5 uma das competições utilizou 63 leopardos e quarenta ursos e elefantes, com os espectadores protegidos por grades; ainda não existia o fosso separando a pista da arquibancada. Conforme a República se expandia, os jogos passaram a ser cada vez mais imponentes. Novas modalidades foram inventadas, os políticos competiam pelo apoio da população. O circo se modernizava. Júlio César ampliou as arquibancadas, cobrindo toda a volta da pista.
Augusto, já no Império, remodelou a arena, trazendo lá do Egito um obelisco para marcar sua obra. Transportado de forma espetacular, o estranho objeto – primeiro obelisco em Roma – servia também para lembrar sua vitória sobre seus inimigos na guerra civil que fez dele o primeiro imperador romano. Hoje, o obelisco está no centro da Piazza dei Popolo.
O Egito era a mais nova província do Império.
Começava a roubalheira.
Faça Parte! Adicione seu e-mail e receba mais informações